Depois da fama de 'cai-cai', Neymar agora é 'insuportável' e 'mimado'
15/06/15 13:56De Santiago – José Miguélez é editor do caderno de esporte do jornal “La Tercera”, um dos mais importantes do Chile. Em seu editorial desta segunda (15), dia seguinte à vitória do Brasil sobre o Peru, 2 a 1, ele se rendeu à genialidade de Neymar, mas com ressalva: para ele, Neymar é tão craque quanto insuportável dentro de campo.
Um jornalista da emissora de TV TVN, outro grande veículo de comunicação chileno, e que transmite ao vivo os jogos da Copa América, classificou Neymar com outro adjetivo, não menos crítico: para ele, o brasileiro é mimado.
Chamou a atenção dos jornalistas os chapéus, o gol e a assistência do principal jogador do Brasil na atualidade contra os peruanos, mas também suas reclamações, gestos, e marra.
No fim do primeiro tempo, levou um cartão amarelo inacreditável ao tirar a espuma que o árbitro coloca no gramado para deixar marcado onde a bola, ou a barreira, devem ficar. Neymar queria a bola mais para o lado. Foi advertido em campo, e se levar mais uma amarelo perderá o jogo seguinte do Brasil.
Será que levou bronca de Dunga no vestiário? Improvável. Neymar, no Barcelona, ainda não é protagonista. Lionel Messi tem esse título, e o próprio atacante brasileiro admitiu no domingo que em 2015 o argentino ainda será o melhor do mundo.
Na seleção, Neymar reina. É praticamente ele e mais dez, já que os demais jogadores oscilam entre medianos e bons. Craque mesmo, só o ex-santista, que ainda por cima recebeu de Dunga a tarja de capitão.
Talvez isso o faça achar que pode fazer o que quiser em campo com a amarelinha. Contra o Peru, reclamou de diversas faltas balançando o braço, dando pulinhos. Se fosse no Brasil, onde agora é moda amarelar quando há reclamação, ele teria recebido o cartão bem antes do lance da espuma.
Nem mesmo os torcedores estão escapando dessa fase rebelde do craque. Depois do jogo contra Honduras, amistoso pré-Copa América de quarta passada, quando poupado o 10 só atuou (muito mal) meio tempo, câmera do SporTV flagrou Neymar pedindo para seus companheiros não irem ao meio de campo saudar os torcedores, algo feito sempre.
“Mete o pé”, disse o meia. Traduzindo, vamos embora. Ele estava irritado com as vaias que o time recebeu dos torcedores gaúchos, irritados com o magro 1 a 0 e, principalmente, com atuação preguiçosa do segundo tempo.
Quando foi vendido do Santos para o Barcelona, Neymar teve que conviver nos primeiros meses na Europa com a fama de “cai-cai”, ou seja, aquele jogador que se atira em campo tentando cavar falta.
A impressão que os europeus tinham dele era rescaldo de partidas que fez com a seleção no continente, e de uma tradição de jogadores brasileiros, que preferem mergulhar em campo em busca de um penal do que tentar terminar a jogada rumo ao gol.
Neymar melhorou muito na Europa. Pouco se joga no Barcelona, mas quando está na seleção parece que volta a ser o garoto do Santos. Contra o Peru, foram pelo menos duas cavadas que o mexicano Roberto Orozco ignorou.
A fama de “cai-cai” era prejudicial ao jogador dentro de campo, mas se a de “insuportável” e ” mimado” pegar, pode prejudicá-lo fora dele.